Adão CruzDigo apenas que esta nossa democracia dá uma amarga vontade de rir. Ela só serve para fazer tudo o que é anti-democrático.
Ironia das ironias!
O povo em geral, ou uma boa parte do povo, e não só o nosso, não faz ideia do que é cidadania, não tem estrutura mental nem cultura político-social suficientemente sólida e transparente para saber o que quer ou o que lhe serve, do ponto de vista da organização social e política.
Este o grande aproveitamento e o grande trunfo dos que ganham. Desta forma, essa coisa de se dizer que “o povo é quem mais ordena”, há muito que desabitou a minha esperança, e não passa, a meu ver, de uma gasta falácia mais ou menos demagógica. O povo não manda em nada e nunca mais lá vai. Por este caminho nunca será senhor de si.
É notório que a sociedade está dividida, do ponto de vista da formação cultural e sócio-política em duas fatias principais: aqueles que sabem o que querem, que gostariam de uma democracia autêntica, aqueles que por ela lutam de forma consciente e conhecem as formas de lá chegar, e aqueles que não sabem nada, nem sequer sabem o que não sabem, mas pensam que sabem tudo. Infelizmente, estes últimos são maioria.
Uma maioria tão distraída que nem se dá conta de que os dois partidos acima mencionados são um e o mesmo. O “bi” de bi-polarização está a mais. Há três décadas no poder sempre fizeram o mesmo, isto é, pouco ou nada fizeram em favor do povo e muito fizeram para se governar, para encher os seus bolsos e os dos amigos.
De cima abaixo, o poder está infiltrado de broncos, medíocres e corruptos. Postos lá pelo povo, dizem. E o tal povo não vê, ouve dizer mas nem cheira. De quatro em quatro anos continua a pôr a sua cruzinha no mesmo local onde vai ajudar à eterna missa, ou seja, à prossecução da sua própria desgraça. E fá-lo com o mesmo desplante, a mesma irresponsabilidade e o mesmo critério de fé e de acaso que põe no boletim do totoloto. E vem de lá com o peito cheio de ar, ciente da sua crença e da “força” da sua alavanca para mudar o mundo!
A cabeça só serve para manter a dormir o que nasceu dentro dela. Pensar não faz parte dos nossos hábitos, nem da vontade desses senhores, para quem a estupidez é o seu sólido alicerce. Por isso, mesmo que ainda cheirem a merda, as políticas anteriores desses partidos (ou partido) não têm vergonha de encher a cidade de canforados cartazes dizendo, desde há trinta anos: “agora sim, agora é que vocês vão ver o que a gente vale”.
E do alto da sua cultura, comandada pela igreja e pelo futebol, o povo aguarda sorridente o fim da festa. Após a contagem dos votos, vai para a cama dormir tranquilamente mais um sono de quatro anos, embalado no cândido sonífero: ITE, MISSA EST.