Quinta-feira, 10 de Fevereiro de 2011

ANDAM FANTASMAS NA BRUMA PORTUGUESA - por José Magalhães

É um Portugal nebuloso o que temos hoje em dia, cheio de secretas esperanças e de cada vez menos valores. Com a revolução, já lá vão uma quantidade de anos, chegou a democracia nas palavras que depressa desapareceu nos actos (se alguma vez chegou a existir neles), chegou alguma modernidade e um moderado desenvolvimento, subiu temporariamente o nível de vida de uns quantos, com todos a passaram a considerar-se aristocratas e, fruto de inúmeros erros, os critérios das escolhas das chefias baseados na competência foram desaparecendo como que por encanto, substituídos pelo laxismo, facilitismo, pelo grupo político predominante e pelo favorecimento económico.

 

Desde o tempo do poeta Pessoa que os fantasmas povoam o nosso imaginário, se bem que mesmo antes do primeiro quarto do século passado, seja certo que também eles por cá tenham andado.

Nessa altura quase só se falava do saudoso Rei, Sebastião fedelho imberbe e esperança de um povo, falecido ou não às mãos calejadas dos mouros infiéis, ou do outro, Rei assassinado às mãos dos da nova situação.

Se nessas alturas vivíamos sebastianicamente no desejo intenso do seu regresso, numa nevoenta manhã e expoente máximo que viria a ser na vida Portuguesa, hoje em dia em nada é diferente, excepto nos objectos da esperança.

Hoje suspira-se pelo regresso de  Salazar ou de Sá Carneiro, pelos ideais do 25 de Abril ou pela democracia, pelas ajudas europeias ou pela moeda chinesa, pelas novas oportunidades ou pelo rendimento mínimo, por não pagar impostos ou por comprar bom e barato mesmo que roubado, pelo petróleo que não temos ou pelas energias alternativas, pelo FMI ou por novo e competente governo, mas sempre na secreta esperança de poder viver em grande e trabalhar moderadamente.

Nos dias de hoje sentimo-nos roubados, injustiçados e mal geridos, mas vivemos a expensas do Estado e da sua caridade, dizemos como sempre se disse, mal de tudo e de todos, temos fome de democracia e sede de justiça (desde que se não aplique a nós) e, mais uma vez estamos sem estaleca para nos rebelarmos, deixando tudo para que os outros façam por nós o que deve ser feito, mesmo sabendo que nunca o farão.

 

Para só falar de uma das bases da vida de um povo, a par da saúde e do trabalho, a reforma das reformas das reformas do ensino que se têm vindo a efectuar nos últimos trinta anos, feitas em especial para os primeiros ciclos de aprendizagem (primário e secundário), colocaram o nível da educação em Portugal numa plataforma muito baixa. A falta de autoridade dos professores e a falta de qualidade de muitos deles (como em todas as profissões), em conjunto com o aumento exagerado do protagonismo dos encarregados de educação, que entretanto se esqueceram que o trabalho de educar começa em casa, e com a arrogância e rebeldia não controladas dos alunos, e ainda com a política instalada do ‘politicamente correcto’ e com a caça aos votos, também ajudam a este estado de coisas.

A nossa falta de capacidade para nos bastarmos a nós próprios, vivendo anos a fio acima das nossas possibilidades, conjuntamente com o cada vez maior grupo de cidadãos egoístas e convencidos da sua superioridade (que copiam de alguma forma o que de mau existe por essa Europa fora e têm poiso perene nas cadeiras do poder), uma elite oca fútil e caduca que não aceita os de classe economicamente mais desfavorecida como seus pares ou até, tão pouco como seres humanos, revelando-se no fim pouco menos que miseráveis e donos de uma mentalidade senhorial e colonial, começam a ser olhados de maneira pouco simpática pelos detentores dos votos a dar, e fazem já parte do anedotário universal.

É uma realidade nebulosa a que se vive em Portugal, com o comum dos cidadãos continuadamente à espera daquele salvador que há-de vir numa manhã de nevoeiro, mas que enquanto tal desiderato não acontece vai vivendo sonolentamente na dependência de subsídios de toda e qualquer espécie fornecidos pelo Estado convencido do direito que lhe assiste em viver assim.

Triste Portugal, por onde e para onde estas gentes mandantes te estão a levar, cantando e rindo.

publicado por Carlos Loures às 19:00

editado por Luis Moreira às 17:43
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2 comentários:
De augusta clara a 10 de Fevereiro de 2011
Eu estou de acordo com o que tu dizes, Zé. Sou desesperadamente contra a depressão e acho que é mesmo altura de, cada um, dizer as coisas como pode e como sabe. Quanto mais não seja porque não podemos deixar-nos afundar nestes períodos negros. Quer nas críticas, quer nas ideias de ordem vária, quer na cultura -que nunca pode estar afastada das fases de luta - temos sempre, todos, uma palavra a dizer. É preciso não ficarmos calados. Os do Egipto não estão. Nós, também, não podemos estar.
De Luis Moreira a 10 de Fevereiro de 2011
Pois, é, Zé, é dificil isto chegar mais baixo. O pior de tudo é a falta de credibiidade de quem, governa, de quem faz Justiça, de quem informa, e assim sucessivamente.

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